segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Praia do Meu Passado

Oh se eu pudesse fazer renascer
Aquelas lindas ondas onde balancei,
Onde eu porventura já te fiz perceber
O quanto naqueles dias te amei.
Junto dos sons que baloiçavam,
- Sim, era mesmo aí,
Que as nossas almas se encontravam.

E víamos peixes a nadar,
Rápido e astutos
Como eu e tu.
E logo se apressavam a escapar,
Sem mais nada dizerem,
Como também nós,
Somente por vermos os corações aquecerem.

E aquele por do sol mágico,
Decerto não te deverás lembrar.
Não me importo,
Por essa altura estavas sempre tu
A tentar-me encantar…
Com aqueles teus lindos jeitos de ser
Que infelizmente em mais ninguém encontrei.
Até hoje, meus lábios fiz morrer
Na esperança de voltar a ter aquilo que já desejei.

Oh se pudesse voltar a sentir o vento na cara,
E a tua mão no meu cabelo.
E por mais uma eternidade voltar a olhar,
Como te olhei,
Antes da tempestade começar,
E onde momentos depois, naufraguei.

Se o tempo retrocedesse
Seria a primeira a voltar,
Aquela praia,
Onde tu e eu,
Viemo-nos a apaixonar.
Não me lembro se foi entre ondas,
Ou entre marés,
Que mergulhei na coragem
E arrisquei os pés.

Apenas sei,
Aquilo que em mim ficou registado,
As marcas no coração,
Feitas quando o meu barco
Havia naufragado.

 “Revê-me nas tuas memórias,
Durante infinitos meses.
Sou a prova das tuas inúmeras vitórias
Ao teres-me conquistado mil e uma vezes.”
 

sábado, 29 de outubro de 2011

Perdida


Gosto de me perder. 

Sempre gostei. Hoje principalmente. Apetece-me vaguear.

Perco-me nas derivas do fruto proibido. Ele cega-me, o pecado, e agora não consigo perceber que caminho percorro. Estou perdida. Devia gostar, neste caso não. Odeio, profunda e desesperadamente. É como olhar para o céu sem ver a estrela polar, olhar para o horizonte e não ver uma linha que limita o infinito, é caminhar numa estrada sem sinais de orientação. E fico doente, sacrilégios de ações que não se viram realizadas. Fico cega, e agora estou a começar a sentir-me muda. As palavras escapam-me, ou fogem do que sou. Ainda não percebi - também ando perdida nisso.

Então caminho não sei bem por onde, e vejo não sei bem o quê, às vezes falo - mas não me escutam. E tenho pernas, mas não as uso. Tenho olhos, que não vêem. Tenho boca, que não fala. E asas, que não levantam. 

De tantas formas de encontrar o desnorteamento vim eu escolher esta, onde tu – desilusão, me afogas, deixas-me sem o que preciso para ver. Escondes os sapatos que comprei para andar, e coses-me os lábios para não falar. E queimas, todas as historias que eu poderia fazer voar, todas as palavras que me faziam imaginar. 

Reparei agora onde me encontro. Está escuro e frio. Ouço vozes que respondem a perguntas que não fiz. 

Não sei se é de mim…mas acho que estou perdida.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Palavras de Vidro


Gostava de poder sentir
Aquilo que as palavras levam
E as imagens ocultam.
Gostava eu de distinguir
As falas inexistentes
De discursos planeados,
Incoerentes.

Levei, outrora,
Dos meus pensamentos,
Palavras de vidro
Que significavam momentos.
E que por serem tão frágeis,
Tive de as deixar,
Não fosse outro alguém
Invadir-me
E querê-las quebrar…

Ingenuamente ando vagueando,
Nas ruas degradadas, bem lá no fundo.
Procurando os pedaços de vidro
Dessas palavras que tomei como um mundo.

Mas se eu me despedi delas,
Digam-me a razão de não conseguir dormir
Ao saber que estão lá fora,
Para além da minha mente,
Tristes, quebradas e sem um lugar quente.

Se o meu coração as aquecia,
E a minha alma as confortava
Porque fui eu retirá-las ao meu ser
- Que só em elas confiava…

Estão seguras agora,
O vidro é quebradiço.
E na minha alma a esta hora
Não seriam mais
 Que mero falhado compromisso.

Abdiquei da sensibilidade
Que elas próprias possuíam,
Somente para terem um pouco mais
Daquilo que no meu coração nunca teriam…

Não peço que voltem,
Nem que supliquem.
Quero, desejo-vos
- Frias, quebradas,
Omnipotentes,
Por outro alguém agarradas,
Para outro alguém quentes.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Nascimento



Nascer acidentalmente…
Por bem de algo,
Para bem de mim,
Que te esperava
Arduamente…

Como ondas de um mar rebelde,
Aqui me encontro eu
Vagueando dia sim, dia não,
Nesta aventura que não pedi
E que apareceu assim, de rompão
Por tudo o que já infringi.

Dei agora asas
A algo que não sabe voar,
Mas que também não tem pernas
Para saber andar.

Dei um sinal positivo
A quem não conheço,
Ou talvez tenha sido um negativo
A algo mais, que padeço.

Nasceu inesperadamente,
De um sobressalto
Entre pontes.
Foi um despertar
Para o mundo.
O conhecer
De mil e uma novas fontes.

Aqui me encontro eu,
Sem lugar certo,
Vendo-te crescer a ti,
Que és tão novo.
E perceber que já antes senti,
Este sentimento
Que de novo nada tem
Mas que será diferente, por ti
Que em original tudo contém.

Nasceste cedo,
Espero que morras tarde.

domingo, 23 de outubro de 2011

Memórias Suicidas


São três da manhã do dia que nunca chegou. Encontro-me sentada sobre uma pilha de papéis desorganizados, formam um ambiente hostil e dão um certo ar de instabilidade a tudo o que se possa encontrar por ali. Ironicamente é o único lugar onde gosto de estar – frio, nada aconchegado, solitário e nostálgico. Sinto-me um pouco assim, as minhas memórias incomensuráveis teimam em ser livres, mas quem sou eu para lhes dar asas se nem pés posso oferecer.

Esta luta interna e paciente vai esperando pelos segundos que nunca acontecerão. Obrigo-me a ser escrava e submissa de memórias feitas em pegadas anos antes, sentimentos de anos antes, lágrimas de anos antes. Mas que perduram e não se atrevem a fugir de mim. Por estas alturas desejo ser tudo o que ninguém quer ser, e imagino-me repugnante para me deixarem, isto que me assombra. Que me deixe.

E sentada no local onde estou pouco há mais a fazer a não ser pensar, em tudo o que rastos de actos mal feitos fizeram notar e que insistem, manipulam-me a permanecer. As marcas na pele, no coração e no pensamento continuam vivas e sem maneira de morrerem ou desfalecerem, já deixei de acreditar que cometeriam suicídio, e eu própria não possuo as forças para as matar. Não me importo que seja crime matar memórias, prefiro-as mortas e enterradas, talvez em cinzas, do que a despertarem dia sim, dia não o ser que há em mim que há anos que escondo.

Vou continuando à espera que elas, as memórias, envelheçam e comecem a perder a sensibilidade aos sentidos, vou ficar aqui, sentada, à espera de as ver cegar, de ficarem surdas e mudas até perderem o tacto e depois ver desvanecer os pensamentos de uma vida que elas tanto quiseram guardar. Suplicar-me-ão para as matar, ou dar asas, pelo menos para abafar as dores da velhice que a ninguém nem a nada escapa. Nessa altura eu continuarei sem forças, mas elas, fortes e no auge do sofrimento cometerão suicídio. Piedosamente eu as reconfortarei.  

São cerca de quatro da manhã do dia que não tem minutos nem segundos, mas que ingenuamente eu continuo a contar. Não sabendo o porquê, vou ficando à espera das asas que levarão metade da minha alma.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Amazónia


 Dêem-me lágrimas para chorar,
Longos rios para as percorrer,
Dêem-me um barco para os atravessar
E a coragem para as debater.

Dêem-me fogo que arde e não se vê,
Caminhos cegos para me enganar,
Aventuras incessantes que ninguém prevê,
Razões para poder navegar.

Mostrem-me as cascatas ocorrentes,
Linhas marcadas por viragens,
Situações dolorosas indecentes
Que fazem as águas correrem sem margens.

Levem-me na descoberta,
Da Amazónia do meu coração
- Há tantos rios secos
Que depressa transbordam com um furacão.

Dêem-me agora o fato de exploradora,
O equipamento necessário
- Amor, coragem e força amadora
Legais e sem preçário.

Correntes fortes avistarei,
Doenças raras farão parte no fim,
Mas nem por isso renegarei
A descobrir o que falta de mim.

Venham rios, encham-se
Como vos quero enchidos,
Transbordem e fortaleçam
Aquilo que chamo de pedidos.

Agora, pronta para a viagem começar,
Que venham tempos tropicais,
Dêem-me chuvas torrenciais.
Façam-me navegar pelo meu coração,
Esculpido pelas ondas e doenças
Que vêm e vão…

domingo, 16 de outubro de 2011

Amar é...


A vida que não foge,
As brisas que continuam,
As almas que persistem
Mesmo quando amuam.

É escrever um poema,
E saber o que contém,
É lê-lo inúmeras vezes
E dedicá-lo a alguém.

É fingir-se interessado
Por assuntos entediantes,
Só porque o seu amado
Os acha deslumbrantes.

É estar dentro de uma garrafa
Com o mínimo para sobreviver,
Mas mesmo com esse mínimo
Há algo que te faz viver.

É pensar sem agir,
E às vezes agir sem pensar,
E mesmo quando isso acontece
Não nos queremos preocupar.

É saber encontrar a felicidade
Sem atalhos perigosos,
É ir pelos caminhos mais longos
E sempre os mais dolorosos.

É aprender a caminhar
Meio vivo/ meio morto,
E saber ressuscitar
Sem olhar para aqueloutro.

É contentarmo-nos com um tanto
E ainda pedirmos mais,
A alegria é um encanto
E torna-se o nosso cais.

É ouvir uma canção
E lembrarmo-nos de memórias,
Mesmo os bons pensamentos
Enterrados como vitórias.

É ouvir uma voz
Sem que ela exista,
Que nos sussurra e diz
“Persista”.

(Setembro 2011)