terça-feira, 11 de outubro de 2011

Viagens do meu coração


Então e se o chão não for o que piso? Se o céu, não for o que vejo? Se as montanhas que tento subir forem afinal rampas que desci a deslizar? Então e se tudo for ilusão aos meus olhos, se estiver a ver mais do que devia?
Devia eu parar de olhar assim, olhar para lá daquilo a que me submetem? Mas porquê? Dizem que devemos observar o que nos transcende, pensar. Mas eu não posso pensar, ao pensar eu não me contenho, ao pensar eu não me controlo, ao pensar eu desisto e caio…rebolo…deslizo…e tudo aquilo que escalei volta à estaca zero, aquele local onde deixei o meu coração. Onde deixo sempre, no zero, às vezes parece que faço de propósito, para ir lá voltar a buscá-lo e começar tudo de novo. Às vezes gosto. Mas é estranho, gostar de me fazer sofrer? Parece que sim…

- Ficas?
- Fico.
- Que vais ficar aqui a fazer sozinha?
- Fico à espera.
- De quem?
- Dele.
- Mas ele não vem.
- Eu sei.
- Então que vais ficar a fazer?
- A imaginar que vem.

E volto a subir a montanha, que às vezes me parece um vale, onde retrocedo e retrocedo sem disso me aperceber. Outras vezes faz-me lembrar um barco danificado, com a água a entrar e eu lá no meio sentada, simplesmente a olhar, a pensar (que é o mal de todos os problemas). E a água entra e entra e continua a entrar… e eu ali no meio sabendo que vou naufragar, mesmo assim não faço nada para que isso se altere. Nada! Não peço socorro estando ao pé da costa, não tento tirar água tendo lá um balde, não tento tapar o buraco tendo eu fita adesiva. Não faço nada. E sinto-me a descer, a ir para o fundo, a regressar… e não me importo. Não me importo de não ser ajudada, não me importo de não o pedir, talvez por idiotice espero vir a ser resgatada, por alguém que me faz sucumbir.

- Que se passa?
- Sinto-me pesado…
- Pesado?
- Como se levasse algo a mais comigo, que não me pertencesse…

E hoje ao naufragar, hoje ao descer a montanha, para vir buscar o meu coração, aquele que deixei na estaca zero novamente…Ele não estava lá, desapareceu, tiraram-mo…

Sentes-te pesado? Pudera.

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