segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Quanto tempo demorarei?



Há dias em que penso em realizar sonhos.

Como uma vontade de criança. Com um sabor de algodão doce na boca e uma corda de saltar enrolada nos meus ombros. Digo-o – com vontades de gente pequena. Com a ingenuidade das pequenas almas corajosas e a persistência da sua energia contagiosa.

Tão depressa e tão urgentemente como o palpitar de um coração minúsculo que bombeia mais que o de gente crescida – tem dias. Tão inconscientemente – penso em sonhos.

Penso nestes meus desejos grisalhos, de já cabelos brancos - incompatíveis com a minha imagem de rapariga inocente. É irónico o caminho que os nossos objectivos perfilam. Mais irónico ainda é acharmos que eles – os sonhos – seguem-nos, como pegadas na areia correm atrás de quem as percorre.

Agora – que sou gente pequena com confiança de ser grande – tenho dias em que penso em como queria realizar sonhos.

Com esta nova vontade de ser velha enrugada. Deixo rastos dessa saudade de sentir o sabor do algodão doce na minha boca. Deixo pegadas - que já se arrastam como resultado da velhice que quis antecipar – dessa melancolia, da saudade da energia viciante e imparável com que queria mudar.

Tão depressa e urgentemente quis eu sonhar. De tal forma, que tão inconscientemente – deixei-me parar.

Quanto tempo demorarei a esquecer os meus sonhos?

Agora que escapei dessa ingenuidade de criança que todos querem adiantar - quanto tempo demorarei a não mais lembrar os dias em que sabia sonhar?



sábado, 23 de fevereiro de 2013

Magra vontade



Eu não sei. Não posso saber. Mas acho que gosto de ouvir aquilo que custa. Como se quanto mais me desfizesse, mais me torturasse – melhor ficaria. Esse magro amor a mim.

Magro e pálido desejo de viver em picos de tristeza, de sentir o rasgar da pele nessas montanhas aguçadas e de vez em quando – para me menos amar – saltar para um campo de emoção e alegria onde me encontro com a doce textura de quem sou – quando me apetece ser.

Até conto os dias, as horas – em desespero – até os minutos, de quanto alimento o meu amor precisa para ser suficientemente fraco, necessariamente cobarde. Um desistente, para que desista de mim assim como eu desisti dele ao querê-lo fino e instável. Ao querê-lo meu – só meu. Porque quem mais quereria um magro amor a si mesmo? Quem mais se daria ao trabalho de fazê-lo emagrecer senão a pessoa com mais - e com tanto menos – vida para dar.

Assim é. Quando me apetece ser – eu sou. Mas nessas horas vagas – que são a maior parte delas – eu não consigo ser mais do que esse anoréctico sentimento de mim mesma.

Há quem diga que vivo por medo.

Eu não sei. Não posso saber. Mas acho que gosto da minha fraca vontade de ser. Como se quanto menos fosse, mais insipida estivesse – mais magro o meu amor seria. E tudo para que não haja ninguém – em todo  o mundo – capaz de roubar-me essa auto-estima já tão lisa, tão pálida, tão doente. Para que o meu magro amor seja só meu. E eu continue a ser somente a doce textura de quem sou- quando me apetece ser.