sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Vale a pena


No outro lado do mundo
vive um alguém inabitado,
anda sozinho como um defunto
ou como um humano, amado.

Quero percorrer rios,
montanhas, vales,
tudo só para o encontrar...
O meu oposto benigno
que tanto quero ensinar.

Porque é o mais solitário e inocente
que desejo assim,
o humano impotente
cujos desejos não têm fim.

Vale a pena percorrer o universo,
por ti, nova paixão inovadora,
que não sabes o que é ter
essa tua força avassaladora.

Vale a pena sujeitar-me,
por ti, meu amor.
Meu cálice na hora da morte,
meu elixir da dor.

Porque me ensinas a ultrapassar
a dor dos antigos pecados,
tu sim, sabes o que é amar
e assim viver a vida dos desamparados.

Por tudo isto vale a pena,
seres assim, como és,
a minha alma pode ser pequena
mas tu não rastejas a meus pés.

Olho para o céu e penso,
que estas no outro lado do mundo,
tao perto e tao longe,
mas encontro-te sempre no meu sono profundo.

Vale a pena,
porque estas aqui,
tão perto e tao longe de mim.

Vou deixar agora a minha alma descansar,
talvez mais um tempo
para o nosso mundo nos aproximar.
Talvez sim, talvez não,
só sei que vale a pena
ter-te no meu coração.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Tenho


Tenho da vida um outro qualquer,
Um tanto e um nada,
Um sujeito, uma mulher.

Tenho dos sonhos
Um golpe da verdade,
Uma alma escondida
Vagueando pela realidade.

Tenho das lágrimas
Um sentimento perpétuo,
A busca do não ter,
Choro predilecto.

Procuro a razão,
Então digam-me o que é ter,
Se o meu coração é furacão
E o meu desejo é poder.

Tenho de um tanto
O que falta do nada,
Da dor um sentimento
- Minha vida encontro desesperada
E do meu amor encontro um momento.

Vivo com a alma
Num lugar à sombra,
Afagando a calma
Que vi ter
Neste paradisíaco mar
Onde a vida se fez viver.

Procuro a solução
De ter o que não se tem,
Sujeitar-me a perder
O vácuo do ninguém.

Mas para nada encontro resposta,
Nem nos tenhos que atingi,
na verdade sei porquê
- Minha vida é uma aposta
Colocada à tua mercê,
Alguém que nem conheci.

Então deixem-me ser volátil,
Condicionada pelo amor,
Antes este prefiro manipular
Que a minha lição feita na dor,
Oh pobres corações que tenho a rejeitar!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Maria

1912, Lisboa.

- Minha Mãe, por favor, peço-lhe …

- Matilde, a menina já sabe o que penso sobre isso. Não, nem pensar. Se o seu pai soubesse nem queria ver, sabe o quão mal isso lhe fica, suja o nome da família em instantes, tudo por um rasco rapaz que vende jornais. Olhe para o Miguel, ele sim seria um bom companheiro, não seja insolente, pense bem. Está a estragar a sua vida com esse rapaz de soslaio. Que maus modos, que rude que ele é! Não sei onde a menina lhe foi buscar o encanto, não saiu ao pai com certeza, esse era um cavalheiro.

Dizia a Dona Maria Isabel Augusta Albuquerque à sua filha, lembrando-se dos bons tempos que tinha passado com o pai do infeliz amado de Matilde. Questionava-se como tinha ele passado de um cavalheiro, dono das províncias do norte, a um farrapo que por ali andava cambaleando e sendo acartado pelo seu filho, Duarte Cabral. Ninguém sabia da história destes dois amantes, por vezes achava-se ingrata com Matilde, porquê proibi-la de amar um sujeito pobre, se também ela já amou e continua amar. Por sinal vêm os dois da mesma família, pensou que talvez fosse genético o encantamento pelos Pereira Cabral. Não quis continuar mais com estes pensamentos que lhe deliciavam as memórias, lembrava-se das corridas pelo campo com o pai de Duarte, José – o seu eterno amado. Lembrava-se dos passeios de carroça que faziam vibrar a sua jovialidade e das tardes passadas somente a conversarem, como tudo tinha sido tão bom. Achou-se enquanto pensava nisto numa situação irreversível, já era velha, tinha uma filha de 20 anos, a sua querida Matilde que era perfeita tanto pelos seus cabelos castanhos que irradiavam madeixas douradas ao sol, como pelos seus olhos verde água ou pela sua simpatia, generosidade, amabilidade com os outros e determinação. Só desejava que ela fosse filha de José, o seu amado. Infelizmente foi obrigada a ter de viver com um homem carrancudo e inconsistente, demasiado tradicional, com os respeitos da família em primeiro. E a Maria, como boa mãe, teria de honrar isso. Não poderia decerto deixar a sua filha ir ter com Duarte, seria o fim, de todos. Mas o seu amor a José e as memórias que a assaltavam e lhe roubavam o coração fizeram-na reconsiderar. Tudo o que ela dizia acerca de Duarte era mentira, também Maria o adorava, principalmente porque tinha os traços de José tanto no rosto como na personalidade. Miguel, o rapaz jovem e rico da cidade queria Matilde, mas este tal como o seu marido não sabiam dar valor às coisas, às pequenas coisas. Maria sabia que por agora isso podia ser insignificante mas como ela já experienciou iria ser o pesadelo de Matilde todos os dias ao acordar. Jamais queria isso para uma filha sua.

“Quero que a minha filha seja feliz.” – Pensou.
E com cuidado para que as aias não ouvissem ou se ouvissem, pelo menos que fosse algo um pouco correcto, disse:

- Vai, quero-te em casa às quatro da tarde, tem muito cuidado. O Duarte ama-te mas o amor às vezes é traiçoeiro, nunca se sabe o que vem depois. Uma alma apaixonada é um corpo indefeso. Agora vai, rápido. O teu pai não te pode ver. Leva um vestido simples, não um com os bordados da família, vai por mim quando te digo que é melhor ires confortável do que esse teu garrido vestido balão.

- Oh minha mãe, não sei como te posso agradecer. Eu amo-o. A senhora sabe isso, ele é a minha força e ao mesmo tempo o meu ponto fraco. Não conseguiria viver sem ele. Muito obrigada por esta oportunidade, minha mãe – amo-a a si ainda mais decerto. Às quatro aqui estarei.

Deu-lhe um beijo e despediu-se de Maria. Mas antes de ela partir disse-lhe ao ouvido sempre com o cuidado de ver se as aias estavam por perto:

- Vai-te! De vez meu amor, não mereces a ingratidão desta vida que me foi escolhida. Foge com Duarte para bem longe, vivam, amem…como eu não pude amar. Vai-te! Estarás sempre no meu coração Matilde minha linda filha. Não te preocupes, do teu pai eu trato.

Assim que viu Matilde sair pelas portas do seu jardim as lágrimas escorreram-lhe do rosto. Só desejava terem-lhe dado a mesma oportunidade quando também ela tinha 20 anos, ao invés disso foi obrigada a viver uma eterna solidão para o resto da sua vida. Não se importa que nunca mais veja Matilde, porque ela sabe que estará sempre bem, na harmonia do seu amor. Alegre e nunca se sentido sozinha com um vazio incapaz de ser preenchido.
Foi a última vez que a viu, a sua perfeita filha, que nasceu dentro dela e que dela fará sempre parte. E assim viu-a partir…

1928, Minho

- Amo-vos.

Foram as últimas palavras ditas por Maria, escaparam da sua boca com um enorme esforço. O seu último suspiro aplicado nelas, cheias de valor e boas intenções.
Morreu já velha, dona de uma experiência e solidão nata, feita historia em seu nome morreu em paz. Muito viveu depois de se separar de Matilde, mas pouco proveitoso foi sem ninguém que ela amasse por perto.
Quando o seu marido morreu sentiu-se rejuvenescida e decidiu procurar José, Matilde e Duarte. Utilizou todas as forças que uma idosa pode ter para os encontrar. Em 1927 encontrou finalmente José, no Minho. Sepultado. Que desgosto enorme sofreu, preferia terem-lhe espetado dez espátulas de madeira pelo coração adentro do que saber de tal notícia. Mas mesmo assim não desistiu de sua filha e seu correspondente amado, que por aquela altura já deviam estar casados. Acontece que gastou toda a sua porção da herança a procurar José e então, pela primeira vez em toda a sua infeliz vida, decidiu lavrar a terra já com 65 anos de idade para ganhar uns dinheiros, o suficiente para poder sobreviver e conseguir ir ao encontro da sua filha antes de morrer. O único objectivo na sua vida para além de viver feliz para sempre que não conseguiu realizar. Vendo então que estava a morrer aos poucos, encaminhou-se para Minho a 16 de Março de 1928, data da sua morte. E quando o relógio batia as doze badalas, fechou os olhos para sempre junto ao seu amado José. Seria uma morte perfeita não fosse a ausência de Matilde. No entanto morreu com ela nos seus últimos pensamentos, já era suficiente.


Pouco meses depois vinha Duarte visitar seu pai à campa quando se deparou com o corpo em decomposição. Imediatamente chamou Matilde, sua companheira de uma vida e seu eterno amor, viviam felizes - era o que Maria queria e assim foi.
Choraram a sua morte, também Matilde andou à procura de Maria, infelizmente estas não se encontraram pelo caminho. Ambos objectivos inalcançados. Contudo havia uma carta, junto ao peito de Maria, em cima da sepultura de José. Estava impressionantemente conservada, seria obra de um milagre certamente. Tinha uma letra esguia e trémula, notava-se que quando foi escrita poucos meses antes, já as forças eram quase nulas. Mas era bom saber que Maria fê-la considerando que eles a iriam encontrar.

“Meus queridos amores,

Agora que lêem isto, de certo se aperceberam que parti para outro mundo, mas estou bem não se preocupem, estou junto a José, teu pai caro Duarte. Sempre o amei, apesar de ter sido um amor impossível, dele e da minha vida acartei muitas lições. Escutem-nas antes de me enterrarem nas vossas memórias:
 - Aprendam a viver com aquilo que têm, é precioso. Sejam felizes com aquilo que vêem, é mágico.
- Não existem erros, apenas lições. Como esta que vos ensino.
- Nasceram como originais, não morram como cópias. Não tentem ser o que o outro foi, vocês podem ser muito melhores, e são.
- Quando quiserem algo que nunca tiveram terão de fazer algo que nunca fizeram. Corram riscos. A vida é um deles. Procurem as oportunidades.
- Se não conseguirem rir-se de vocês próprios nunca terão o direito de se rirem de outros.
- Se não avançarem estarão sempre no mesmo lugar, se quiserem uma resposta terão sempre de perguntar.
- Sem arrependimentos, a vida já vos dá demasiados.
 E o mais importante de tudo – façam história. Ela existe para ser feita.

Deixo-vos com o meu coração em paz e repleto de bons momentos, pois só esses importam.
Sejam felizes, não há maneira dos outros, mas à vossa.

Maria Isabel Augusta Albuquerque”

A verdade é que Maria fez história, a sua mais importante lição cumprida à letra.

domingo, 25 de setembro de 2011

O Tempo passa


O tempo passa,
A chuva lá fora continua,
A dor repassa
A verdade fria e crua.
Não quero esperar,
Nem sofrer,
Ou amar.
Não quero perceber
Daquilo que fujo
Ou finjo correr.
Queria eu escapar
Ao buracos da vida,
Fazer ameigar
O ardor desta
E daquela ferida.
Queria eu deixar de ter
Este dilema,
De ter ou não poder
Enfrentar o problema.
De tanto desejar
Escapou-me a sorte
- Venham então buscar-me,
Levar-me para qualquer sitio,
Menos para o lugar da morte.
De tanto pedir
Trouxeram-me a dobrar,
Preferia agora não ter
Tanto amor para dar.
Que este poder
Que me invade
Venha a ter mais utilidade,
Que no meu corpo
A lembrar-me
De uma eterna realidade…
O impossível não existe,
O pecado é santo,
E a minha dor assim persiste
Disfarçada e coberta por um manto.

Mandaram-me seguir a luz


Um dia alguém me disse que devia seguir a luz.
Acreditei nas suas palavras, faz sentido para um humano racional seguir a luz, o ponto brilhante que irradia a verdade, a alegria, o amor.
Um dia alguém me travou.
Não sabendo o porquê, esperei.
Fingi perceber, no entanto sou cega na escuridão, sem um guia ou um sinal, esperei. Esperei essa luz, mas ela não aparecia – o invólucro substancial da essência divina, a magia em forma de energia branca, a minha esperança de um novo rumo, a montanha que me falta escalar, o rio que me falta percorrer, o sangue compatível com o meu ser, a razão vista aos meus olhos, os batimentos do coração que ouço nos meus sonhos, realizados por alguém.
Sou uma tola, somos uns tolos, porque continuamos à procura, e talvez seja no vácuo que tenhamos maior esperança da sua existência, mas porquê? Porque continuamos nós a lutar por algo que não vemos nem sabemos que existe, somente sentimos…
Somos uns vagabundos do nosso instinto humano que nos leva a fazer coisas impensáveis, a acreditar e a esperar coisas que têm um valor infinito e não aparecem assim num momento, mas em vários, em todos diria. Talvez seja isso que nos baralha, nos confunde e nos faz sentir dentro de um buraco sem saída, profundo e escuro onde só nós conseguimos habitar, os humanos, ditos racionais. Não esperemos, vivamos sem expectativas alucinantes, às vezes as melhores coisas ocorrem nos piores momentos ou nos mais insignificantes.
Um dia alguém me disse que devia seguir a luz, não segui, não esperei, apenas vivi. Ela irá ao meu encontro se assim o fizer, nesse dia ninguém me travará e não sabendo o porquê, alcançarei.

sábado, 24 de setembro de 2011

Fraquezas em brasa


De tanto voar
Caíram-me as asas.
De tanto lacrimejar
Foi-se me o salgado.
Então quem sou eu?
Alma em decadência?
Oh santa inimiga da inexperiência!

Dita e solene escravidão,
Reposta pelo insolente amor,
Se o meu ver tem coração
Então que se aplique e diga louvor…

Mas que aventura insaciante
Que me retém à submissão
- Levantem o leme, avante!
Que a nossa vida é mais que a obrigação.

Façam do querer um pedido,
Solução infinita a cativar,
É mais que um mero amigo,
É o objectivo da vida a chamar.

Dêem fogo às brasas,
Cinzas à água,
Dêem penas às asas,
Que é valente a mágoa.

Palavras bastam,
Expressões completam,
Perpétua história
Da inalcançável vitória.

Apaguem as chamas molhadas,
Vento quente e húmido da paixão.
Na vida são almas condenadas,
Na morte figuras sem coração.

E de tanto voar
Caíram-me as asas.
De tanto lacrimejar
Foi-se me o salgado.
Oh marés e mares em brasas
Venham queimar o dito amado!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A carta feita em confissão


Ouviu-se o toque.

“Atendo? Não, nem pensar…ou talvez devesse…mas que confusão só por uma mera chamada, vou atender”

Mas os dedos traíram-lhe o pensamento, não atendeu. Não queria mostrar que estaria interessada em fazer as pazes. Queria manter-se imóvel aos sentimentos, jamais daria o braço a torcer se ele não fizesse por merecer. A Joana, era assim que lhe chamavam, estava num estado lastimável, sentia-se enferrujada pelo tempo mas sendo tão nova, todos ficavam assustados com tamanha evolução, mudança. Todos os dias mostrava a energia, que ia buscar nem ela sabe bem aonde, ao mundo, sorria alegremente, com vontade, por vezes até pensava para si própria se estaria a trair-se por sorrir pois o seu coração dizia-lhe o incorrecto, lastimar.

“Vou esperar, não estou zangada, apenas preciso de pensar. Será que preciso assim tanto de ti como pensava? Talvez da próxima vez atenda, para dizer que gosto de ti, mas não sei se dá mais…eu estou mal, ainda assim não muda o estado em que nos encontramos. Talvez seja melhor assim, a dor sôfrega habitada entre nós que nos mantém tão distantes e ao mesmo tempo tão próximos. Martim, é mesmo assim, sabes…a vida….é mesmo assim, umas vezes esperamos coisas menos boas e acabam por haver surpresas, outras vezes é o contrário e a culpa não é nossa mas da nossa idade, da nossa jovem alma que procura a aventura e o risco. Não faz mal, estamos bem assim, longe...estamos não estamos?

Era o que Joana pensava quando o seu irmão entrou pelo seu quarto.

- Mana, fala comigo. Estás bem?

Normalmente ela não tem muita paciência para o seu irmão mais novo, acha-o demasiado irritante e atrapalha sempre em tudo, mas desta vez notou-se a preocupação na voz dele que se reflectia automaticamente nas suas expressões faciais, preocupadas, que mostravam o lado querido do seu irmão terrorista.

- Sim estou bem, não te preocupes – limpou as lágrimas da cara, rapidamente, de maneira que ele não nota-se – queres alguma coisa?

- Uma carta.

- Que carta?

- Esta mana, para ti, foi deixada agora por debaixo da porta. Eu acho que tens um admirador secreto e vou contar à mãe.

- Dá-me mas é isso e desaparece.

Pronto, o lado terno e dócil do seu irmão desapareceu tão rapidamente como apareceu. Deixou-lhe a carta sobre a cama e foi-se embora. A Joana sabia de quem era, sabia demasiado bem o que ali estava escrito, não queria abri-la, preferia deixar as coisas como estão a sentir uma dor no seu peito todos os dias. Mas o amor e a tristeza apoderaram-se da sua curiosidade omitida, aos poucos foi-se aproximando da cama, a carta estava ali, para ser lida. Relida.

“Lês e rasgas.”

“ Querida Joana,

Não me atendes, eu sei. Escusas de te explicar, eu compreendo. Só não quero mal entendidos.
Eu não estou zangado porque acabámos, eu estou triste porque não te consigo deixar. Estou contente pelas memórias que construímos, estou triste porque não consigo parar de revivê-las na minha cabeça. Não estou zangado por tu não me amares, estou zangado comigo por eu continuar a amar-te. Não estou zangado por te ter perdido, estou triste porque por momentos tive-te. Não estou zangado por não te poder ter, estou triste por saber o que me falta. Não estou zangado por teres seguido em frente, estou triste porque eu não consigo. Não estou zangado por tu não voltares, estou triste por continuar a esperar que possas voltar. Não estou zangado porque te odeio e não quero…estou triste porque sinto a tua falta e te amo. Era isto que te queria dizer, acho que a distância faz-nos bem. Adeus.

Martim “

Deitou-se sobre a cama, estava assustada. Era isto que precisava de ouvir. Sabia agora tudo.

“Obrigada, por me escreveres”

Palavras por vezes conseguem valer mais que gestos, pensou. Talvez fosse um fim, mas um bom fim…com uma carta.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ninguém sabe que sonho


 Ninguém sabe que sonho,
Que me perco todos os dias,
Pelas estradas corridas
Obstáculos das dores frias.

Ninguém sabe que sonho,
Este mar que é a verdade,
O azul-marinho
Falando a realidade.

Ninguém sabe que sonho,
Como haviam de saber,
Se a parede que construi
Nunca irá padecer.

Ninguém sabe que sonho,
Que procuro as perguntas sem solução,
Pergunto-me onde vou
E no final, sem explicação.

Ninguém sabe,
Ninguém descobre,
Mostro apenas parte de mim
Já que a outra foi-se embora, enfim.

Ninguém saberá,
Descobrirá isso,
O meu sentimento predilecto
Agora sonhado em compromisso.

Ninguém sabe que sonho,
A razão de o fazer,
A minha vida redigida
Em momentos de prazer.

Ninguém sabe que sonho,
Sabes tu?
Suponho…

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Hoje perguntei-me


Hoje perguntei-me que ando eu a fazer,
Que tenho eu na cabeça
Para eu própria me fazer sofrer.

A duvida parece nem existir,
Tantas coisas que já senti
E esta é a mais certa que há-de vir.

A sensação de saber responder,
A uma pergunta sem solução,
E esta nem chegar a aparecer
Para um momento de reflexão.

O facto de querer mostrar
Aquilo que nem cheguei a pedir,
A dura dor de querer levar
Este peso de querer-me mentir.

Custa saber que a visão
É agora o meu fraco,
Que os meus olhos me traem
Todos os dias desde então.

Hoje perguntei-me,
Porque sou sempre eu a crucificada,
O dia há-de vir
Em que deixarei de ser a mal amada.

Quero pontos nas virgulas,
No fundo não quero…
Quero mais tempo, espaço
- Algo terminado num abraço.

Hoje perguntei-me
Em que ando eu a pensar,
Devia fugir aos ventos
Mas eles não me deixam escapar.

Hoje perguntei-me,
Como tenho perguntado
Se em tudo o que fiz obriguei-me
Ou foi meramente de bom grado.

Gostava de saber perceber
A idade da inocência,
Os meus olhos traídos
Contando a indulgência.