domingo, 20 de novembro de 2011

Também precisamos de concerto


13h56m

Marquei as horas. Tenho de ter a certeza do momento.

Não é que já não acredite em mim, mas as coisas passam, deixamo-las navegarem para bem longe e elas perdem-se – já não nos têm para se orientarem. Eu tenho a noção, infelizmente, que sou eu que decido para onde as minhas histórias, os meus objectos, as minhas opiniões navegam. Sou a bússola que lhes indica o norte quando estão perdidas.

É por isso, talvez, que quando algo me escapa, me foge, me tiram, me roubam, eu não me importo. Ingenuamente espero que a bússola funcione e que voltem para mim.

É aí que começa o verdadeiro ciclo da vida, normalmente, a bússola está estragada – ou então, algo a faz desorientar-se também. Perco coisas, maravilhosas. Mas perdem-se e não voltam.
Tenho dias que fico à espera, horas em que desespero pela sua chegada a casa. Eu. Mas tenho semanas, meses, anos contados sem as ver.

Eu sei porque não voltam. Essas coisas, as que perdi, as que fugiram de mim – eram demasiado importantes, tinham demasiado significado dentro do meu pensamento. Quanto mais importância se dá, maior o poder. É por isso, acredito eu, que as coisas não voltam e a vida não retrocede. Uma explicação simples mas nefasta, chamo-lhe doença por ficarmos doloridos e cansados, cheios de febre – não a sentimos na testa, mas no coração.
O que perdemos desorienta a bússola, ela é frágil e sabe o que nos toca e encanta, demasiado sensível. Então ela avaria. Não as leva a casa. Não as leva a mim. E começa outro ciclo, outro ciclo da vida sem essas coisas que nos marcaram.

- Estás à espera de alguma coisa? - Disseram-me, um dia.

- Estou. Que me concertem.

Quem disse que tudo na Natureza é perfeito? Estou desorientada e os meus ponteiros não apontam para o norte.

- Que te concertem?

- Sim. Mas tem de ser algo que não me prenda. Também não posso arriscar-me a perder o meu remédio.

Cada um tem a sua bússola. Umas mais desorientadas que outras, mas todas com uma coisa em comum – estão a tentar levar algo a casa.
Continuo à espera. Vou marcar outra vez as horas. Quero ter a noção do tempo que perco a tentar-me concertar.

13h57m


( Dedicado à melhor pessoa do mundo, aquela que nunca irei perder )

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