domingo, 13 de novembro de 2011

Aquela história de limites


- Onde estão os teus limites?

“Arrumados numa gaveta.”
Foi o que pensei. O que queria dizer, mas às vezes o nosso maior limite são as palavras. Desencorajei-me.

- Eu sei-os. Sabendo-os não preciso de os encontrar.

Mentira. Eu não sabia. Não sei. Nunca soube.
A minha definição de limite está um pouco rebuscada, talvez até seja antiga ou demasiado sincera para alguém crer nela. O nosso pensamento cria-nos limites inimagináveis, somos travados por uma força igual à de tempestades mas invisível como o ar.

Se calhar eles estão mesmo numa gaveta.

“Não. Impossível. Não pode.”

 A minha memória é demasiado desorganizada para eles estarem escondidos numa simples gaveta. Talvez estejam debaixo da minha cama feita de penas, de culpas, de sacrilégios que tantas pessoas tiveram o cuidado de me fazer.
Pensando bem, o meu armário está repleto de coisas que já não uso, que ficaram encurraladas no meu pensamento, inúteis, perdidas. Em tempos foram coisas grandes, que me deram felicidade. Fui obrigada a deixá-las envelhecer, por ali, a apanharem bolor e a cheirarem a mofo. Preferia tê-las feito desaparecer deste meu quarto pessoal que me acompanha diariamente, já não preciso delas, só ocupam espaço e ainda sofrem as minhas dores – essas memórias velhas. Acho que o problema é mesmo esse, serem velhas, recordarem a minha doce juventude. Talvez tenha sido por essa razão que permaneceram, não porque quis, não porque quiseram, mas porque era seu dever.
Os meus limites devem estar neste armário, só pode. Esconderam-se por debaixo das minhas roupas de infância, ou então nadam na ferida que fiz em pequena ao andar de bicicleta. Podem estar ao pé dos meus corações partidos, mas duvido.

- Encontraste-os?

- Acho que sim. – Respondi.

Estão bem assim, num lugar onde não os vejo. Esconderem-se não é necessário, aliás, prefiro que estejam bem à superfície da minha memória. Quero-os ao pé de mim. Não para os usar, para saber que mesmo conhecendo onde se encontram eu não me apoiarei neles.
Afinal de contas, o nosso maior limite são as palavras, e essas…oh essas são mágicas – estão sempre no nosso quarto, bem escondidas.

3 comentários:

  1. Gosto muito dos seus textos acho que tem muito jeito para escrever, é pena deixar de publicar-los durante algum tempo.
    Alguns dos seus textos são muito parecidos com a nossa realidade.
    Muitos parabéns :)
    Beijinhos!!

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  2. Muito obrigada pela sua opinião : )
    Infelizmente o dever chama-me e ficarei sem tempo suficiente para escrever, ainda que sejam poucos momentos, esses momentos serão preciosos para outras responsabilidades.

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  3. talvez , mas mesmo assim é dificil mudares o mundo de uma pessoa quando essa pessoa não quer fazer parte do teu mundo

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"Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido"