sábado, 2 de março de 2013

Não fez mal



Davas-me os teus ouvidos se te pedisse para ficar? Se te implorasse. Pedisse perdão. Sei lá. Desesperasse. Davas-me ouvidos? Como quem dá lápis, papel e caneta num gesto de bondade, davas-me tu os teus ouvidos? Para que  pudesse sussurrar-te essas belas palavras que me esqueci de te contar com a pressa de um sentimento repentino que me deu. Que me dá todos os dias. Que me impede, trava – de te falar um

- Desculpa.

Ao longe – talvez nos meus sonhos - eu até já ouço umas palavras meias tímidas e nebuladas

- Não fez mal.

Palavras tuas.
E depois volto à minha essência destemidamente tímida, que afinal não implorou por uns ouvidos teus, não te sussurrou as palavras desejadas. Na verdade nada fez para que pudesse ouvir um

- Não fez mal

Que é teu. Que é o único que a minha irónica coragem quer ouvir.
Peço-te um

- Desculpa.

Mil e uma vezes por dia. Mil e duas se contar com uma vez em que me enganei e o disse em voz alta – mas só para mim. Que tu não me dás os teus ouvidos. Não mos emprestas. Não me deixas chegar-lhes.
E eu quero. Preciso – que esse meu ser destimidamente tímido – solte essas palavras ao ritmo da chuva que bate no chão. Eu quero – preciso – de te sussurrar essa loucura, essas letras arrependidas, essa palavra gasta, esses meus mil um sonhos em que te digo

- Desculpa.

E por uma vez -  tu dás-me os teus ouvidos.
É então, na mais correcta e verídica realidade que o meu pensamento já ousou enfrentar – que me dizes – de verdade

- Não fez mal.

      E eu acredito, pela primeira vez sem ser em sonhos, na minha inocência. No teu perdão.

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"Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido"