quarta-feira, 13 de junho de 2012

Fazes-me falta


 Tu sempre foste aquilo que pareceste, eu ia sendo aquilo que parecia. Julgava conseguir mudar o mundo e dava-te somente crédito para mudares de cenário.  Dizia-te que não tinha fé, e continuo a não ter. Esse teu Deus nunca me fez nenhum favor. Nunca fará. Tentava acorrentar-te ao meu pensamento e quase que por segundos deixaste de acreditar – como eu. Eu queria mais, tu querias menos – e foi isso que tanto nos aproximou e tanto nos afastou. Vivias em câmara lenta e eu vivia por relâmpagos, éramos e talvez ainda sejamos paradoxos ampliados pelos desejos e vertigens do corpo. Talvez há uns meses atrás o que te diria agora seria qualquer coisa como:

- Não acompanhas-te o meu rasto.

Mas sinceramente e agora que ninguém nos ouve – eu também nunca o deixei. Dissipou-se juntamente com o bater das ondas na falésia, junto aquele local onde tantas vezes mergulhámos. Meio frio, meio morto. Como eu e agora – como tu.

Sabes que nunca tive jeito para tocar a tua música madrugadora. E tu também nunca tiveste jeito para argumentar contra mim. Odiava e amava esse meu desprezo à tua voz, à tua melodia dançante enfestada de história e passados. Eu queria o futuro e tu o derradeiro silêncio das almas. Vivias por citações e eu por frases sem direito de autor. Agora caí em mim. Caí em ti. Já não jogas este meu jogo. Ainda chegaste a dizer “Xeque” e eu pergunto-me porque é que não acabaste? Porque desististe de mim e da vida?  

 Como me fazes tanta falta. Preciso de ti e da nossa controvérsia. Porra – a vida é injusta.

Dizias-me para rezar – então cá vai. Deus Omnipotente no qual eu não acredito, peço-te que mo tragas de novo, que sou eu que não tenho fé. Ou que lhe entornes a voz um pouco, que ela caia do precipício entre o céu e a terra e chegue até mim como alimento de cada dia. Ámen (ou o que quer que se diga).

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