terça-feira, 1 de maio de 2012

Incurável



Não foi ele próprio que estabeleceu as suas ideias. Se fosse, ninguém o curava.
Mas fingiu-se doente, incapaz de pensar, coitado do pobre rapaz cujo orgulho o engoliu em seco. Sem se engasgar.
Ainda se tenta esconder pelas entranhas do seu ego, que já não o engole, só cospe. Ainda tenta fugir pela calada, mas à noite, que de dia vêem-no cheio de febre e mentalmente esgotado. Não - de dia ele não pode andar por aí, afinal é um doente incurável sem promessas para a vida, apenas certo de que o amanhã vai ser igual ao hoje. Só se, e rara a exceção, decidir fugir mesmo pela calada (mas só à noite). Que de dia ele não tem coragem, que de dia ele sabe (ou pensa) não conseguir.
Não foi ele próprio a estabelecer as suas ideias, porque se fosse, não havia cura para a confiança nem traição às suas palavras.

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"Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido"