segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Há qualquer coisa que eu não gosto


Odeio fins. Odeio começos. Preciso de uma estrada de pedra, um percurso selvagem e palavras novas.

O intermédio é uma vasta solidão compreendida entre dois tempos felizes. É o fim e o começo, o compasso de espera, uma corda bamba sem sentido, um vazio sem história com personagens soltas que balançam de um lado para o outro, neutras.   

É um intervalo, não como um das três da manhã às cinco da tarde. Um daqueles sôfregos, infinitos – porventura. E nós nunca sabemos onde estamos - se no fim, se no inicio, se no meio. Nós nunca sabemos nada, vagueamos fingindo. E adoramos fingir saber. Loucos demoníacos diriam outros, sobre nós.

Não é que tenha medo de começos, mas do que vem antes. E não sei quando vem ou se julga vir. Não sei se me devo preparar ou é melhor chegar atrasada, para me notar. Sempre me disseram para começar com o pé direito, mas eu não sei o local, o dia, as horas, o ano em que começarei de novo.

Se calhar estou no fim, de algo. E é por isso que sinto um calafrio, os pés a gelarem e o relógio a adiantar-se. Quer chegar primeiro que eu , mas não me importo, afinal só vagueamos. 

E eu acredito e sempre vou acreditar, mesmo se da corda bamba não sair, que a vida é mais que conquistas supérfluas onde tentam o fim nunca atingir.  

Já passa da hora, eu sei. Tudo o que é bom vem atrasado, mas sempre perdura.

3 comentários:

  1. Povavelmente noutra vertente, vejo-me neste teu texto.

    Obrigada :)

    Sara

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  2. "mas sempre perdura"-> Seria interessante sublinhar, mas os comentários não têm direito a html |:

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  3. Está lindo sara! :)
    Alexandra F.

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"Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido"