- Já tentaste contá-las?
Era noite cerrada.
Uma noite como todas as outras noites. Estava deitada num suave manto de relva olhando para o céu, que era igual a todos os outros céus, de todas as outras noites. Achava aborrecido. Tão aborrecido. Ver sempre a mesma coisa. Só o conforto do local me prendia. Era o suficiente.
- Não, nunca. – Respondi.
Não percebi quem era. Não sabia porque tinha perguntado. Apenas respondi, como é habitual responder – sem conhecer, sem saber, sem nada. Sem um nada nós respondemos a tudo. Devia ser punido por lei não transformar palavras em sentimentos. Palavras sempre retratam momentos. Devia logo ter percebido.
- Nunca amas-te?
Acho que era um rapaz, que estava ao meu lado. Estava ali, a contar estrelas, desde que cheguei. Nem reparei na sua presença.
“Que passatempo tão enfadonho.” - Pensei.
- Amar? – disse, confusa.
Reparei que nem para me responder tirava os olhos do céu, a sua cara, apesar de não muito nítida, mostrava estar espantado e muito interessado naquilo que fazia.
Esperei resposta. Por durante uns dez minutos o silêncio reinou.
- Quem sente prevalece, quem chora padece, quem ama conta estrelas. É simples. Demasiado simples. E quem conta estrelas quer ter a certeza que estas são suficientes.
- Suficientes? – Perguntei intrigada.
- Sim, para brilharem intensamente. Quero saber que existem estrelas suficientes para quando me perder. Elas vão-me guiar até casa.
- E quantas já tens?
- Duas mãos cheias mais ou menos. Mais uma menos uma.
Achei piada à forma como falava. De um modo elegante e deveras tão crédulo.
- E chegam para não te perderes? – Perguntei.
- O problema é que nunca nada chega para nós. Vou amar, e vou-me perder. Por mais que conte. Mas prefiro saber que fiz tudo, que contei tudo o que podia e ainda mais um pouco.
Fiquei perplexa. Teria ele razão? Eu nunca contei estrelas. Deveria?
Levantou-se, parecia estar satisfeito com o trabalho daquela noite. Especulei sobre o que estaria ele a pensar.
Prosseguiu.
- Mais vale uma perda consciente do que aquela que foi em vão. E quem ama já conta estrelas a saber que vai perdê-las.
Nunca mais o vi. Nunca mais fui ao local onde falámos. Nunca mais me deitei sobre um manto de relva maciça. Mas contei estrelas. Conto. Ciente de que o amor é passageiro e as estrelas livres. Quem disse que a vida nos oferece o melhor sem antes pela excelência lutarmos.
Acho que vou guardar as mãos cheias que já contei, num frasco. Talvez não se percam. Mas como tudo – como todas as respostas, todos os sentimentos, todas as promessas - os frascos são de vidro. E o vidro quebra, mas sempre perdura.
Adoro o teu blog , tanto pela sua simplicidade como pelos teus belos textos que me deixam sempre tão pensativa. Tens um enorme talento e espero que invistas nele , porque sucesso não te faltará.Boa sorte e continua, pois estás no bom caminho !
ResponderEliminarMuito obrigada pela tua opinião, acho que um bom texto tem de deixar uma pessoa pensativa, é isso que pretendo : ) Vou tentar investir o mais que puder, são grandes em valor estes pequenos incentivos.
ResponderEliminaruma palavra : perfeito
ResponderEliminarbeijinho :)
obrigadaaa
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