"(...)Os olhos já não jorravam água, tinha feito tudo para os secar. E tudo fez. Ela sempre foi assim, sempre colocou em mãos algo mais do que a capacidade humana consegue, sempre esperou pelos ventos fortes que a derrubassem, e sem nenhum agasalho sempre os defrontou. Admirava em parte a sua força, que mais ninguém tinha, todas as peripécias pelas quais tinha passado eram para ela meros sinais de que ainda não tinha alcançado a sua meta incrivelmente determinada.
Para mim, e para todos os que com ela conviveram, tratava-se de injustiça, uma injustiça feita pelas próprias mãos e que andava pelos próprios pés. Nunca tinha visto nada assim, o terror dominava quem quer que visse o sofrimento dela. A minha memória ficará eternamente marcada pela sua presença através da coragem, inteligência e principalmente a sabedoria que mais ninguém possuía.
“Não se preocupem, hoje é só mais um dia soalheiro.” – Costumava dizer. Era o tudo o que pronunciava para afogar as mágoas, umas vezes ainda ia ao mar refrescar-se, mas a escuridão nem sempre a permitia mergulhar livremente onde quer que fosse. Tornou-se cega, mas foi isso que a glorificou. E eu admiro-a acima de tudo por não ter pousado as mãos e descansado os braços quando o trabalho estava feito – para ela nunca nada ficava por fazer, nem que fosse ter de cantar a sua melodia diária, que de vez em quando, afastava aqueles cujo amor dela não cedia.(...)
Querida Margarida, estarás e continuarás sempre ligada ao meu mais profundo ser, no mais íntimo lugar guardado somente para ti no meu coração. E é essa vontade de seres quem és, a persistência que possuis em permanecer, o amor que em ti rejubila, que me faz e me obriga a esperar por alguém que seja apenas e unicamente tu.
Ontem quando estive a pensar decidi o que iria fazer, vou vaguear nesses ventos que tu sempre enfrentas e esperar que me confrontes. Só uma vez mais.
Sempre, Duarte."
Excerto do livro "O elogio da ausência" escrito por Sara Penas.
gosto da maneira que expressas as palavras. sigo o teu blog (:
ResponderEliminarobrigadaa
ResponderEliminarFantástico! É absolutamente incrível a maneira como as palavras
ResponderEliminarse cruzam no teu texto, embaladas pela cadência da magia que delas
se solta em cada passagem. Obrigada por nos dares a conhecer o teu talento
e por partilhares connosco essa brisa que da tua alma sopra quando escreves. Por tudo isto, os meus mais sinceros parabéns, não só por este
texto, mas também por todo o blog (está verdadeiramente fabuloso).
(é de salientar que a frase "A ordem é o prazer da razão, mas a desordem é a delícia da imaginação", que se enontra no cimo da página, não poderia ser mais certeira). Desejo-te, assim, que as tais "brisas" que mencionei acima continuem a soprar velozmente, "incendiando" o teu papel com as tuas palavras inspiradoras e enchendo a tua vida com esse teu talento...
Muito obrigada por todas as tuas palavras acerca dos meus textos, são comentários como estes que me dão uma razão para continuar com o blog e com o meu trabalho. São para mim de extremo valor. Muito obrigada mesmo
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