Davas-me os teus ouvidos se te pedisse para ficar?
Se te implorasse. Pedisse perdão. Sei lá. Desesperasse. Davas-me ouvidos? Como
quem dá lápis, papel e caneta num gesto de bondade, davas-me tu os teus
ouvidos? Para que pudesse sussurrar-te essas belas palavras que me esqueci
de te contar com a pressa de um sentimento repentino que me deu. Que me dá
todos os dias. Que me impede, trava – de te falar um
- Desculpa.
Ao longe – talvez nos meus sonhos - eu até já ouço
umas palavras meias tímidas e nebuladas
- Não fez mal.
Palavras tuas.
E depois volto à minha essência destemidamente tímida,
que afinal não implorou por uns ouvidos teus, não te sussurrou as palavras
desejadas. Na verdade nada fez para que pudesse ouvir um
- Não fez mal
Que é teu. Que é o único que a minha irónica
coragem quer ouvir.
Peço-te um
- Desculpa.
Mil e uma vezes por dia. Mil e duas se contar com
uma vez em que me enganei e o disse em voz alta – mas só para mim. Que tu não me
dás os teus ouvidos. Não mos emprestas. Não me deixas chegar-lhes.
E eu quero. Preciso – que esse meu ser
destimidamente tímido – solte essas palavras ao ritmo da chuva que bate no chão.
Eu quero – preciso – de te sussurrar essa loucura, essas letras arrependidas,
essa palavra gasta, esses meus mil um sonhos em que te digo
- Desculpa.
E por uma vez - tu dás-me os teus ouvidos.
É então, na mais correcta e verídica realidade
que o meu pensamento já ousou enfrentar – que me dizes – de verdade
- Não fez mal.
E eu acredito, pela primeira vez sem ser em sonhos, na minha inocência. No teu perdão.
E eu acredito, pela primeira vez sem ser em sonhos, na minha inocência. No teu perdão.
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"Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido"