Eu não sei. Não posso saber. Mas acho que gosto de ouvir aquilo que
custa. Como se quanto mais me desfizesse, mais me torturasse – melhor ficaria.
Esse magro amor a mim.
Magro e pálido desejo de viver em picos de tristeza, de sentir o
rasgar da pele nessas montanhas aguçadas e de vez em quando – para me menos
amar – saltar para um campo de emoção e alegria onde me encontro com a doce textura
de quem sou – quando me apetece ser.
Até conto os dias, as horas – em desespero – até os minutos, de quanto
alimento o meu amor precisa para ser suficientemente fraco, necessariamente
cobarde. Um desistente, para que desista de mim assim como eu desisti dele ao
querê-lo fino e instável. Ao querê-lo meu – só meu. Porque quem mais quereria
um magro amor a si mesmo? Quem mais se daria ao trabalho de fazê-lo emagrecer senão
a pessoa com mais - e com tanto menos – vida para dar.
Assim é. Quando me apetece ser – eu sou. Mas nessas horas vagas – que são
a maior parte delas – eu não consigo ser mais do que esse anoréctico sentimento
de mim mesma.
Há quem diga que vivo por medo.
Eu não sei. Não posso saber. Mas acho que gosto da minha fraca vontade
de ser. Como se quanto menos fosse, mais insipida estivesse – mais magro o meu
amor seria. E tudo para que não haja ninguém – em todo o mundo – capaz de
roubar-me essa auto-estima já tão lisa, tão pálida, tão doente. Para que o meu
magro amor seja só meu. E eu continue a ser somente a doce textura de quem sou-
quando me apetece ser.
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"Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido"