- Chama-se amor, a menina nunca ouviu falar? Há quem tenha…
Mentira. Eu não posso ter o
amor, ele sim - tem-me a mim. Não poderei ter algo que tanto quebra, tanto
muda, tanto fica – e alastra. Ficaria doente de mudanças, doente desse mal que
é a paixão. Ai como adoramos estar doentes, de nariz pingado e lenços no bolso.
Como adoramos ter aquilo que não devíamos ter. E vamo-nos viciando nessa doença,
facilita-nos as coisas - dizermos que estamos doentes, as pessoas desculpam
quem está de cama. É um remédio - a própria doença é a cura em si. Esse amor que
estragou, talvez de tanto estragar, tornou-se a salvação.
E as pessoas acreditam nisso, e
de tanto acreditarem – no amor se viciam. Ainda bem – deixem-se viciar, que uns
dias de febre só fazem bem à alma. Só fazem bem ao coração. Não se preocupem, novos
remédios se irão inventar – o homem sempre trata de inventar tudo. O homem não
entende – ninguém entende - que o verdadeiro remédio são dias de cama eternos,
noites de febre infindáveis e um maço de lenços no bolso durante toda a vida.
- A senhora tem?
Não tem. Ela não sabe o que é o amor, porque se soubesse - não
falaria. Quem sabe não fala, apenas o escuta, o sente – o vive. E não trata,
não procura curar. Quem tem amor dele não se quer ver livre. Mas deixem. Há
quem goste de hospitais. Não os repreendo, afinal aguentar amor eternamente é
tarefa que o coração nem sempre suporta, há quem sofra de ataques – o coração
pesa e a alma também. Foram remédios a mais durante toda a vida – tentativas de
cura – suicídios da emoção.
- Claro que tenho, sou uma pessoa com muito amor para dar até. A
menina devia saber.
E sei, que amor dá-se. Às tigelas, aos lotes, em sacos, em barris –
dá-se. A quantidade é gerida. Isso não é dar, é racionar amor. Dá-lo aos
poucos, economizá-lo. Quem o poupa não o quer, na verdade nunca o quis. Quem o
gere tem medo, medo de o perder. O amor não se perde, apenas se dá – a
inesgotável doença…
- E eu sei. Tenho andado doente.
- Não mude de assunto – vá- se curar.
- Não quero que me curem, quero que me viciem.
meu deus, está lindo! adorei, tens uma escrita fantástica! "não quero que me curem, quero que me viciem" que génio
ResponderEliminarobrigada :D
ResponderEliminarAdoro os textos e o blog ***
ResponderEliminarPS : http://youleave-me-breathless.blogspot.pt/ este é o meu novo blog , segue e dá opinião , sigo de volta **