Comprei a tela para te pintar,
As tintas para te descrever,
Usei pincéis para te imaginar
E assim com água, te fiz parecer.
Num respirar supérfluo imaginei
Que figura iria eu fazer…
- Se a tua alma em que acreditei
Ou uma outra que me fez sofrer.
Talvez por tempo indeterminado
Fiz a minha obra, de bom grado.
E no fim de mais esta conquista obter,
O teu retrato lindo, eu fiz valer.
Expu-lo para o mundo,
Todos o observaram
Analisando-o com um olhar profundo
Como que me alertando de que me enganaram.
Então docemente o observei,
E reflecti
- Aquele não era o retrato que pintei,
Que falava sobre ti!
Mas como isto aconteceu?
Alterarem-no tão de repente?
Como não consegui eu reparar
Que a tua figura estava a mudar propositadamente?
Olhei para ele mais uma vez,
E no canto da sua frescura
Evoquei o nome do quadro,
Feito a pinceladas de amargura.
Aquele não era o retrato que pintei,
Aquilo que imaginava,
Era o teu “eu” que ocultei
E que por ingenuidade, eu não acreditava.
O meu quadro não era assim,
Era mais harmonioso e belo,
E agora terei de me contentar com este por fim
- O dito verdadeiro, nada singelo.
Que pinceladas tão aborrecidas,
Marcadas por desilusões
- Mostram acções meias vividas
Governadas pelas tuas confusões.
Preferia o retrato feito por mim,
Vindo da terra dos sonhos.
Mas eu sei que este é o real, enfim,
A tua verdadeira caracterização sem pressuponhos.
Agora que está exposto, nada há a fazer,
A não ser intitulá-lo de “Retrato que não Pintei”
- Hoje em dia o meu único quadro
Em que sempre confiei.
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