Hoje acordei. E sei lá – apeteceu-me. Não são todos dias, mas hoje foi
assim - qualquer coisa de especial teve para me acordar.
É um palpite, como tantos outros que por aí andam. E de vez em quando –
muito de vez em quando – eles estão certos. Talvez seja por isso que acordei,
porque quem sabe talvez o meu esteja certo. De todas as vezes que errei, uma delas
teria de acertar.
- Porque não hoje?
Pensei. Ou melhor – escrevi. Porque se o digo alto não me deixo
acreditar. Não poderia acreditar. Há coisas que se devem manter assim –
incrédulas – como os palpites. Não porque não se devem saber, mas porque assim
não enfrentam a severidade da vida. Essas palavras mergulhadas em inocência,
que experimentam o íntimo e testam as memórias. Creio eu que é isso que me faz
acordar. Essa ingenuidade que nos assola, apodera, transforma.
De tal forma que hoje apetece-me ser palpite. Porque sei lá – não posso?
Esta pele hoje não está para mim. Demasiado presa – talvez – demasiado minha. Por
isso acordei. Palpite. E eu preciso de flutuar, como essas palavras inocentes
flutuam. Preciso de ser palpite, um rasgão de sorte desejado, uma surpresa
iminente, uma contagiante esperança. Quero ser a dinâmica da minha vida, por um
só dia, quero ser uma opção, um pressentimento ou talvez um presságio. Quero
divagar, ser a excepção, o sexto sentido, a fé. Voar nesse véu de ignorância. Ser escolhida por alguém que possa
dizer:
- Foi só um palpite.
E que esse acaso esteja certo – esse eu que virou sorte para outro.
Afinal de contas, de todas as vezes que se erra, numa delas tem de se acertar. E
porque não hoje possa eu vir a ser a razão de alguém acordar?
por vezes estas coisas acontecem e nem percebemos o porque .
ResponderEliminargostei, belo texto .
Este teu texto é mais uma prova do teu enorme talento literário. Para nós (pessoas que decidiram guardar alguns momentos da vida atarefada de cidadãos deste mundo para se deleitarem com a magia das tuas palavras), é sempre fantástico ouvir a tua voz. Digo "nós", pois considero que ninguém consegue ficar indiferente à tua escrita. É impossível fechar os olhos a uma luz tão forte, é impossível dizer "não" aos apelos das tuas palavras para que dediquemos tempo a lê-las. Digo "a tua voz", pois tu não te limitas a deixar escapar meia dúzia de coisas sem sentido. Tu própria buscas o sentido das coisas e, quando não o consegues encontrar, procura-lo incessantemente até o encontrares. E é assim que são os grandes escritores, os quais colocam de forma organizada algo que nas mãos de muitos "doutores e senhores do mundo" seria um verdadeiro caos. Sim, porque tu não és como esses "doutores e senhores". Esses que procuram a eloquência em conversas infundamentadas e inúteis, que procuram o sentido, mas acabam completamente perdidos em devaneios fúteis. Tu vives ao abrigo dessas inutilidades, preferindo descortinar o que é verdadeiramente relevante. Tu revelas o mundo de forma transparente, mas, ao mesmo tempo, de forma pessoal e sentida, o que é característico de um bom escritor. E a tua escrita é tão tocante e genuína, que nós (pessoas que decidiram guardar alguns momentos da vida atarefada de cidadãos deste mundo para se deleitarem com a magia das tuas palavras), quando te "ouvimos" (quando lemos o que escreves), temos a sensação de que realmente estás a falar para nós e para o mundo, de nós e do mundo... É, enfim, um clamor, que chama todos ao redor da magia que brota da tua imaginação...
ResponderEliminarnao tenho palavras para agradecer nem para expressar a gratidão da tua opiniao. muito muito obrigada : D
Eliminar