E o tempo passou. Não, nada disto, estou errada, como sempre, como
daquela vez em que a minha mãe me pediu para contar os números e eu disse
dezoito, dezanove e não sei mais o quê, é demasiado para mim. Demasiados
números, coisas difíceis que ninguém me ensinou e esperam que saiba. Eu é que
me passei, não foi o tempo. Deixem lá o tempo em paz que ele em nada tem a
culpa de eu não saber contar. De eu não saber. De eu não saber chorar lágrimas enxugadas
e secas pelos meus lábios, lábios esses que sempre falam o que não devem, o que
não podem, o que não sabem. E depois protestam com a cara, com expressões e esperam
que eu compreenda esses sinais corporais que ninguém me explica:
- Cala-te!
Mas calo-me a quê? À vida e ao facto de não saber a quantas vou? Não
me posso calar, nem que fale pelos olhos, nem que me ria pela barriga e
proteste com os braços, eu não paro, não me calo. Arranjo outras línguas se for
preciso, mas vou protestar. Por não me terem ensinado os números e agora me
sentir uma burra desvairada que não sabe quando parar.
Se me dissessem para curar uma ferida no joelho, sabia bem o que
fazer, não podia chorar, não podia espernear nem gritar, pelo menos foi o que
meu pai me ensinou quando eu era pequena. Só espero, que alguém venha e me
ajude. Espero, conto o tempo, mas eu não sei contar… Esqueceram-se disso.
E querem que me cale, que me cale à ignorância, ao tempo e aos
relógios que teimam em fazer barulhos para contarem o quotidiano a quem não
sabe fazê-lo. Ainda dizem que eu é que não sei, mas são os outros que utilizam
tudo e mais alguma coisa para sobreviverem. Ora é o despertador, ora é o telemóvel,
ora é isto e aquilo, ora é uma campainha ou duas batidas na porta, porque três
já é muito e dez soa a desesperada. Querem que me cale aos sons que ouço, às
vozes que me assobiam de noite, mas são as únicas que me dizem
- Dezoito, dezanove, vinte…
tenho um selo para ti no meu blog *.*
ResponderEliminarObrigada! :D
Eliminar