Sentei-me. Estava mesmo cansada – de tudo.
Peguei no café frio da noite anterior e bebi, nem pensei como ele não iria fazer efeito. Não iria fazer-me adormecer, nem esquecer. Apenas era um hábito do qual não prescindia. Costumava fazê-lo nas noites intermináveis em que me davam dois dedos de conversa e por ali se prolongavam assuntos da “vida”. Tudo acaba nisso. Na vida.
Comecei a relembrar a minha ingenuidade desses tempos. Tinha pressa em viver, queria correr o mundo num só dia e experimentar tudo numa só hora. Esqueci-me que viver não é escolher todas as opções mas sim aceitarmos só haver uma por onde caminhar.
E o amor, esse, era tão fácil. Tão leve que voava. Tão insípido que voltava. Tão transparente que se escondia. Mas sempre o encontrava, por detrás de uma personagem inocente que imaginava ser um futuro coerente.
Inocentes não têm lugar aqui, neste mundo – não bebem café à noite para lembrar, não guardam rancor, não acordam de madrugada para escrever meia dúzia de palavras nunca ditas, não bebem para esquecer, não fingem amar, não fingem sofrer…
Quem me dera ser inocente, poder dizer que nada sei.
Os meus olhos já viram muito, mas o que quero ver, nunca mais verei…