Essa saudade já escorre com o tempo. E quando lhe falta lugar desce
pelos olhos. Tem dias. Tem horas. Porque foram só umas horas que passaram.
Poucos segundos. Há tão pouco se fez passado e já tanto me atormenta. Já tanto
me alastra. Queima.
Ficou comigo o que não enterrei - debaixo da terra. Há coisas que não
se enterram, simplesmente. Naquela altura até disse:
- Faz-se lembrança.
E quase que se fez. Quase foi um passado ténue. Mas nasceu a memória
que me corrói – aleija, estraga. Transformou-me em destino sádico, viril,
púdico.
Escavei-te a saudade. Foi o que foi. Foi o que deu na altura, o único
pedaço de ti que podia ser só meu. Na verdade ainda o é, não que não queira,
mas que já não sirva. Desgastou-se, sabes?
Tudo se desgasta. Tu sabes. Até tu, que estás debaixo da terra, mo
dizes à noite. E quando a vergonha dos raios de sol não se intrometem também mo
dizes de manhã.
- É a saudade a falar.
Dizem-me.
Mas não. É a memória que me fala - o pedaço de ti que está comigo e
que nunca será meu, os restos da tua expressão, a ousadia do teu olhar. Aquilo
que te roubei e que nunca te devolvi quando em tempos ingénuos disse:
- Faz-se lembrança.
Não – faz-se saudade.
Gostei muito, Sara
ResponderEliminarObrigada sofia : D
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