Restos. Nesses cantos que pingam tristezas. Esses
(re)cantos desajeitados, feitos demoras inúteis, esperas no tempo. Pedaços de
vida adiados, escondidos nos cantos, escondidos da vista, escondidos dos modos.
Refúgios secos, com lágrimas enxutas – meias loucas, meias fúteis. Salvações de
quem não soube, como eu, de existir.
Lugares da sucata, do lixo que somos, da lixeira que
fazemos. Lugares de cheiros, insípidos e tão pessoais, esgotos pestilentos
feitos carne podre - memórias vitais.
Esses restos de
nós, da nossa incomensurável insegurança sofregamente imprudente, trava-línguas
da esperança que tanto se quer e não se ofende. Esconderijos da nossa falta de
expressão, da ausência de pena – ausência de coração.
São grutas submersas, espelhadas de ganância –
bugalhos de fúria caídos do céu, caídos da estância.
Estrume. Restos
reciclados do que seremos. Reutilizáveis – as nossas queixas. Que é o que esta
imunda casa guarda. Beco sem saída com toneladas de odores – fruto da história
podre, desfeita, desusada dos nossos amores.
Num canto desencantado aqui jaz o nosso corpo – mouco
– semente da esperança, da vida, do amor louco.