Tu sempre foste aquilo que pareceste, eu ia sendo aquilo que parecia.
Julgava conseguir mudar o mundo e dava-te somente crédito para mudares de
cenário. Dizia-te que não tinha fé, e
continuo a não ter. Esse teu Deus nunca me fez nenhum favor. Nunca fará.
Tentava acorrentar-te ao meu pensamento e quase que por segundos deixaste de
acreditar – como eu. Eu queria mais, tu querias menos – e foi isso que tanto
nos aproximou e tanto nos afastou. Vivias em câmara lenta e eu vivia por
relâmpagos, éramos e talvez ainda sejamos paradoxos ampliados pelos desejos e
vertigens do corpo. Talvez há uns meses atrás o que te diria agora seria
qualquer coisa como:
- Não acompanhas-te o meu rasto.
Mas sinceramente e agora que ninguém nos ouve – eu também nunca o
deixei. Dissipou-se juntamente com o bater das ondas na falésia, junto aquele
local onde tantas vezes mergulhámos. Meio frio, meio morto. Como eu e agora –
como tu.
Sabes que nunca tive jeito para tocar a tua música madrugadora. E tu
também nunca tiveste jeito para argumentar contra mim. Odiava e amava esse meu
desprezo à tua voz, à tua melodia dançante enfestada de história e passados. Eu
queria o futuro e tu o derradeiro silêncio das almas. Vivias por citações e eu
por frases sem direito de autor. Agora caí em mim. Caí em ti. Já não jogas este
meu jogo. Ainda chegaste a dizer “Xeque” e eu pergunto-me porque é que não acabaste?
Porque desististe de mim e da vida?
Como me fazes tanta falta. Preciso
de ti e da nossa controvérsia. Porra – a vida é injusta.
Dizias-me para rezar – então cá vai. Deus Omnipotente no qual eu não
acredito, peço-te que mo tragas de novo, que sou eu que não tenho fé. Ou que
lhe entornes a voz um pouco, que ela caia do precipício entre o céu e a terra e
chegue até mim como alimento de cada dia. Ámen (ou o que quer que se diga).
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"Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido"